Monday, October 5, 2009

Ros - ? Guil - ?

"ACTOR - Custa-me encarar-vos, senhores! Vós não entendeis a humilhação que isto implica - sermos privados da única hipótese que torna viável a nossa existência - sermos privados de um público. De alguém que nos esteja a observar... E nós para ali, que nem umas crianças dementes, a deambular em roupas que nunca ninguém usou, a falar como nenhum ser humano fala, a fazer juras de amor em verso por detrás de cabeleiras fartas, a matarmo-nos uns aos outros com espadas de madeira, a declamar falsos votos de fé e promessas ôcas de vingança - e cada gesto e cada pose a desaparecerem no vazio de um ar despovoado de gente. Empenhámos a nossa dignidade para as nuvens, e só as aves ignotas nos escutaram. Não compreendem?! Nós somos ACTORES - somos o oposto de pessoas! Pensem bem, neste preciso momento, pensem... Qual foi a coisa que alguma vez fizeram de mais... privado... secreto... íntimo... Uma coisa que tenham feito com absoluta garantia de não estarem a ser vistos?(...)
Nós somos actores... Emepenhámos as nossas identidades, segundo as convenções da nossa profissão, confiantes de que alguém nos estaria a ver, a observar.
Mas afinal, gradualmente, ficámos sem ninguém. Fomos apanhados desprevenidos. Só após o longo solilóquio do assassino é que tivemos a oportunidade de olhar em redor; imobilizados como nos encontrávamos, de perfil, os nossos olhos procuravam a vossa presença, primeiro confiantemente, depois hesitantemente, e por fim desesperadamente - mas cada bocado de turfa e cada tronco em qualquer direcção mostrou estar vazio, dasabitado. (...) Até que finalmente estacámos. E ninguém. Ninguém apareceu, ninguém clamou por nós. O silêncio impôs-se, inquebrável. Obsceno. Despimos as nossas roupas douradas, atirámos fora as espadas e as côroas - e, silenciosamente, pusemo-nos a caminho de Elsinore."

Rosencrantz and Guildenstern are Dead, Tom Stoppard

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